Na vasta imensidão da Namíbia há um lugar onde todos os errantes podem encontrar um refúgio. Uma espécie de oásis com tudo aquilo de que precisamos para continuar a nossa longa aventura; e quando um oásis se desvenda, não nos podemos dar ao luxo de o ignorar. 

Extremamente perto da linha do trópico de Capricórnio e longe de tudo o resto, a pequena aldeia Solitaire não podia ter um nome mais condizente com o local onde se encontra. Na região Khomas e perto do Parque Nacional Naukluft – onde podemos encontrar as famosas dunas de Sossusvlei, assim como o Deadvlei – Solitaire oferece um local de repouso a todos aqueles que por estas bandas vagueiam descobrindo este país e percorrendo os milhares de quilómetros de estradas de terra batida num todo-o-terreno, o principal tipo de turismo procurado na Namíbia. Aqui encontramos a sombra essencial para fazer frente às próximas dezenas de quilómetros até se chegar à cidade seguinte.

A Quinta Solitária 

Foi em 1948 que Willem Christoffel van Coller comprou 33.000 hectares ao governo administrativo da Namíbia, na altura, Sudoeste Africano governado pela África do Sul, com o objectivo de criar gado. A quinta foi crescendo nesta região semi-árida e Elsie Sophia van Coller, mulher de Willem, batizou-a de Solitaire, devido a uma solitária árvore morta que se encontrava junto à estação gasolineira que ali construíram. Desde 1968 a solitária quinta teve vários donos, servindo sempre como ponto de paragem para quem ali passasse. 

É certo que se não fossem as estradas principais de terra batida, a C14 em direcção a Walvis Bay e a C19 de Sesriem, Sossusvlei, Solitaire não era o que é hoje e ainda faria mais jus ao nome de que é merecedora. Esta zona árida, imprópria para agricultura, com uma longa época seca, ocasionais montanhas que se estendem no horizonte da paisagem plana de gravilha e com os seus animais selvagens, servem de cenário quase pós-apocalíptico a esta pequena aldeia. Para tornar a paisagem ainda mais digna de um tal cenário é a sua decoração – na sua entrada somos recebidos por vários carros antigos deixados, ao propositado abandono, a enferrujar e ao destino dos elementos naturais. É um dos postais mais frequentes que podemos encontrar referentes à Namíbia. 

Uma paragem obrigatória

Independentemente da estrada que seguimos, seja de Walvis Bay ou de Sesriem, Solitaire é a paragem obrigatória. Por factores externos – falta de comida ou água, de combustível, ou pelo calor abrasador – ou por fatores internos – a curiosidade – este é daqueles lugares que é mesmo obrigatório passar, pois as memórias que podemos perder ao ignorá-la ou os problemas que podemos ter ao desprezá-la são, em qualquer uma das hipóteses, passíveis de arrependimento. 

Todos os errantes, viajantes, trabalhadores, estrangeiros ou locais encontrarão aqui a sombra preciosa numa planície de sol escaldante, água preciosa numa terra árida, refrigerantes, gelados, a melhor tarte de maçã, do mundo, oficinas, lodges, bombas de combustível. Mas não se enganem, não é só um lugar para repousar; aqui podemos andar de balão pelo deserto do Namib, ou por Sossusvlei, fazer passeios de bicicleta ou percorrer os trilhos de 4×4.  

Carrinha Ford enferrujada em Solitaire, Namíbia

Em Solitaire encontramos o repouso, sejam por 15 minutos, ou um dia inteiro. Chegar aqui é como chegar ao um pequeno paraíso depois de percorridos muitos quilómetros. É um lugar onde não existe preocupação e onde existe tudo aquilo que precisamos antes de lá chegar. Sentimos que aquilo que queremos naquele momento, Solitaire está lá para nos dar. 

Saber que todos os cafés bebidos, todas as fatias da melhor tarte do mundo comidas contribuem para a continuação deste espaço e para o desenvolvimento e protecção desta região é sentir que por um instante pertencemos realmente a um lugar que dá o que nos deu. 

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